domingo, 22 de novembro de 2009

Cuide de você

Um pouco a contra-gosto, saio da cama para pegar o jornal, abro as cortinas e... não dá para ficar aqui dentro! Coloco um biquini, o jornal debaixo do braço e vou para a piscina... Ainda bem que o jornal chegou e me tirou da cama! Almoço num japonês delicioso e sigo sem expectativas para uma exposição que comentaram comigo: "Cuide de você". Sigo ela orla vendo o movimento e a descontração das pessoas. Dia de sol em Salvador! Mar azul, pessoas na praia, vida no ar... É, o dia está mesmo lindo! Chego ao Museu de Arte Moderna e que surpresa boa! O lugar é lindo demais, com uma vista espetacular! Caramba! "Por que não vim aqui antes?!" Me ocorre que quando estou fora do país sempre visito uma infinidade de museus, igrejas, exposições e quando estou no Brasil não prestigio quase nada... Resolução de ano-novo: apostar mais na vida cultural tupiniquim em 2010! rssss Ainda que eu tenha ido a uma exposição de uma francesa, estava num lugar belíssimo da minha terra. Tão especial e tão único! Hora de ver a exposição... Muito boa! Me identifiquei demais com a carta recebida por Sophie... E quem não se identificaria? Quem nunca levou um fora na vida? Quem nunca ficou sem respostas? Minha reação?! Me senti um pouco Sophie naquele momento. Senti uma espécie de compaixão universal para com todos que amaram e não foram amados de volta... C'est la vie. E também eu tenho feito a única coisa a fazer: tenho cuidado de mim. E para completar um dia tão bacana, na saída do museu havia um projeto de pintura com crianças... Uma graça! Deveria ter tirado uma foto dos pequenininhos pintando suas obras-primas! São essas pequenas alegrias cotidianas que fazem a vida valer a pena, né não?!
"Recebi uma carta de rompimento.
E não soube respondê-la.
Era como se ela não me fosse destinada.
Ela terminava com as seguintes palavras: “Cuide de você”.
Levei essa recomendação ao pé da letra.
Convidei 107 mulheres, escolhidas de acordo com a profissão,
para interpretar a carta do ponto de vista profissional.
Analisá-la, comentá-la, dançá-la, cantá-la. Esgotá-la.
Entendê-la em meu lugar. Responder por mim.
Era uma maneira de ganhar tempo antes de romper.
Uma maneira de cuidar de mim."
Sophie Calle

Email do rompimento,
motivo da exposição Cuide de você


"Sophie

Há algum tempo venho querendo lhe escrever e responder ao seu último e-mail. Ao mesmo tempo, me pareceria melhor conversar com você e dizer o que tenho a dizer de viva voz. Mas pelo menos será por escrito.

Como você pôde ver, não tenho estado bem ultimamente. É como se não me reconhecesse na minha própria existência. Uma espécie de angústia terrível, contra a qual não posso fazer grande coisa, senão seguir adiante para tentar superá-la, como sempre fiz. Quando nos conhecemos, você impôs uma condição: não ser a “quarta”. Eu mantive o meu compromisso: há meses deixei de ver as “outras”, não achando obviamente um meio de vê-las, sem fazer de você uma delas.

Achei que isso bastasse; achei que amar você e o seu amor seriam suficientes para que a angústia que me faz sempre querer buscar outros horizontes e me impede de ser tranquilo e, sem dúvida, de ser simplesmente feliz e “generoso”, se aquietasse com o seu contato e na certeza de que o amor que você tem por mim foi o mais benéfico para mim, o mais benéfico que jamais tive, você sabe disso. Achei que a escrita seria um remédio, que meu “desassossego” se dissolveria nela para encontrar você.

Mas não. Estou pior ainda; não tenho condições sequer de lhe explicar o estado em que me encontro. Então, esta semana, comecei a procurar as “outras”. E sei bem o que isso significa para mim e em que tipo de ciclo estou entrando. Jamais menti para você e não é agora que vou começar.

Houve uma outra regra que você impôs no início de nossa história: no dia em que deixássemos de ser amantes, seria inconcebível para você me ver novamente. Você sabe que essa imposição me parece desastrosa, injusta (já que você ainda vê B., R.,…) e compreensível (obviamente…); com isso, jamais poderia me tornar seu amigo.

Mas hoje, você pode avaliar a importância da minha decisão, uma vez que estou disposto a me curvar diante da sua vontade, pois deixar de ver você e de falar com você, de apreender o seu olhar sobre as coisas e os seres e a doçura com a qual você me trata são coisas das quais sentirei uma saudade infinita. Aconteça o que acontecer, saiba que nunca deixarei de amar você da maneira que sempre amei desde que nos conhecemos, e esse amor se estenderá em mim e, tenho certeza, jamais morrerá.

Mas hoje, seria a pior das farsas manter uma situação que você sabe tão bem quanto eu ter se tornado irremediável, mesmo com todo o amor que sentimos um pelo outro. E é justamente esse amor que me obriga a ser honesto com você mais uma vez, como última prova do que houve entre nós e que permanecerá único.

Gostaria que as coisas tivessem tomado um rumo diferente.

Cuide de você.

G"

Para saber mais:

http://www.sophiecalle.com.br/

http://blog.sophiecalle.com.br/

0 Comentários:

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial