Do Fato Ao Acaso

Tenho refletido sobre os espíritos livres e os espíritos obstinados. Como tudo na vida eles têm o seu lado bom e o seu lado ruim, suas vantagens e suas desvantagens... Os espíritos livres, na minha humilde concepção (opinião pessoal, intransferível e muito provavelmente pouco fundamentada), são aqueles em que o desejo de viver é mais importante que o de conquistar. Eles aceitam a vida como a vida se apresenta. Se lhes é dado um limão, a limonada será feita. Não lutam contra o que não podem mudar. Não se desgastam com isso. Não desperdiçam essa energia. Cultivam sua própria felicidade baseada em si mesmos. Para eles, o importante não é o destino e sim o caminho. Enjoy the ride. Não se apegam, não dependem, não precisam de nada nem de ninguém para se sentirem completos e realizados. Querem apenas aproveitar a vida no que a vida têm de melhor. Eles vivem o presente. Já os espíritos obstinados contemplam a tentativa e a persistência. Têm sonhos grandes - e o buscam. Acreditam que os frutos vêm do esforço próprio e não costumam esperar pela vida mas buscá-la incessantemente. Têm muita dificuldade em aceitar o que não podem mudar (porque acreditam que sempre podem mudar alguma coisa... hehehe). Se lhes for dado um limão, eles vão acessar a internet (tempos modernos...), encomendar pelo menos mais meia dúzia de frutas e montar um cardápido com diferentes opções de sucos para agradar todos os convidados. Lutam muitas batalhas e por isso mesmo acabam amargando muito mais derrotas, mas muito mais vitórias também. Pensam em desistir um milhão de vezes. E um milhão de vezes se convencem que vale a pena persistir. É um enorme consumo de energia. Por vezes ficam tão preocupados com o destino que se esquecem de admirar as paisagens do caminho. Reféns das angústias do passado e incertezas do futuro, estão sempre com os pensamentos em algum lugar que não necessariamente representa o presente. Provavelmente não existem espíritos 100% livres nem 100% obstinados. Ou, ainda, as pessoas podem se sentir livres em algumas questões ou contextos e obstinadas em outras situações. E com certeza não existe nem certo nem errado. Ser livre ou obstinado não é defeito nem qualidade, é antes característica. Interessante é que os espíritos livres e obstinados despertam profundo encantamento uns nos outros. O espírito obstinado olha com inveja para a liberdade e a paz do espírito livre que tudo consegue aceitar, que tudo consegue converter em satisfação. Deseja um pouco desse mundo fácil para si próprio. Admira a espontaneidade e o desprendimento do espírito livre. Este, por sua vez, olha encantado a determinação do espírito obstinado e inveja a intensidade de seus sentimentos. Olha a paixão do obstinado pela vida. Desejava ter em si próprio um pouco mais dessa necessidade de querer alguma coisa e persistir na busca. Eu os vejo flutuando, se olhando encantados, vendo o melhor de cada um. Mas tudo de um que desperta encantamento no outro é também o que desperta a incompatibilidade. O espírito obstinado que se apaixona por um espírito livre sofrerá porque o espírito livre não precisa dele (embora possa querer estar com ele) e preza sua liberdade de ir e vir. O espírito livre que se apaixona por um espírito obstinado sofrerá porque o espírito obstinado sempre vai querer mais do que o espírito livre pode oferecer. O espírito obstinado precisa se sentir querido e necessário e mantém suas convicções para desespero do espírito livre. E assim eles caminham lado a lado através da vida, entre encontros e desencontros, alegria e tristeza, admiração e reprovação, tentando de algum modo encontrar amor, entendimento e harmonia - às vezes em si mesmos, às vezes no outro, às vezes no mundo.

01/05/08

PS: Obstinado de acordo com a Pri: "aquele que tem a mania ou hábito de analisar exaustivamente algo que não tem análise lógica..." Qualquer semelhança é mera coincidência! hahaha Adoro essa garota!